quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sócrates não anda por Paris só a estudar Ciência Política.


Continua a consumir umas coisas. Como, de resto, já fazia em São Bento. Senão, vejamos o que ele disse (o que aqui transcrevo e o resto que está na notícia do Correio da Manhã): «"Para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança. As dívidas dos Estados são por definição eternas. As dívidas gerem-se. Foi assim que eu estudei", disse.»

6 comentários:

  1. por incrível que possa parecer, Sócrates tem razão.

    Cumprimentos,
    jtf

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  2. Do ponto de vista técnico - ou da "ciência" económica - é óbvio que tem razão. Pelo menos até ao momento em que um Estado tem meios para pagar e os mercados reconhecem essa capacidade. Ora esse não é o caso de Portugal, Irlanda ou Grécia. Se fosse não se teria pedido "ajuda". Ou não é assim? Aliás, e que eu saiba, poucos são aqueles que querem que o Estado português pague tudo aquilo que deve num espaço de tempo mais ou menos curto ou mais ou menos dilatado.

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  3. exacto, caro Fernando. do ponto de vista económico-financeiro, a dívida pública não é comparável à dívida privada, pelo facto de esta ser eternamente renovável. daí eu ter dito que, no fulcro, Sócrates toca num ponto importante. naturalmente que, no ponto em que a dívida externa - sublinho, externa - chegou, torna-se insustentável cumprir as amortizações escalonadas. mas, volto a repetir, assumindo que a existência de um estado-nação é eterno, a dívida pública é uma espécie de carrossel eterno, uma estafeta que tende para o infinito.

    adicionalmente, gostaria de dizer que visito o seu blogue assiduamente e quero cumprimentá-lo pela inteligência e pela prosa, com a qual estou invariavelmente de acordo.

    cumprimentos,
    jtf

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  4. "volto a repetir, assumindo que a existência de um estado-nação é eterno, a dívida pública é uma espécie de carrossel eterno, uma estafeta que tende para o infinito."

    Esta tendência para o infinito, no que Hegel diria o mau infinito, não é tanto intrínseca ao Estado-nação como é ao capitalismo. Se olharmos para a questão da concretização da mais valia no seu aspecto mais universal, ou até totalitário, vemos que a mais-valia do capital depende da venda do seu produto ao trabalho, aos trabalhadores. Se os rendimentos do capital forem equivalentes ao que o capital paga ao trabalhador não há mais valia, não há lucro, de modo que o crédito às famílias, por exemplo, é essencial ao capital produtivo. Já ao capital financeiro é essencial o crédito às empresas e aos Estados já que é daí que retiram na forma de juros a sua mais valia. O zerar perpectuo das dívidas dos Estado, embora num primeiro momento injectasse maior liquidez no sistema financeiro, num segundo momento levaria à sua estagnação.

    O que acontece é que o sistema financeiro quer tudo, quer controlar todos os momentos do seu processo, ou seja, quer poder emprestar aos Estados e quer poder castigá-los por pedirem emprestado quando, tendo emprestado em excesso, sintam falta de liquidez.

    A meu ver estamos cada vez mais sob o jugo de um totalitarismo do financeiro que, como não tem um centro político, recuou para o pano-de-fundo lá onde não é visto por si mesmo mas de onde tudo o mais acontece. É como a natreza, não se vê por si mesma, vê-se pelo passar das estações, pelos ciclos de nascimento e morte dos organismos, etc. Ou seja, é o que se mantêm idêntico a si mesmo na e pela diferença.

    Como o financeiro não se concretiza em nenhum individual ele não chega a ser um universal concreto, ou seja, um universal que é num momento diferente de si mesmo, um momento no qual pode ser contemplado directamente - em termos religiosos diria que não tem um Jesus Cristo e que, portanto, é como uma divindade abstracta totalitária a que ninguém se pode dirigir nem apontar.

    O financeiro é cada vez mais "o círculo cujo centro está em toda a parte e a circunferência em parte alguma."

    A arrogância do governador do banco de Portugal para o deputado João Galamba que anda por aí nos jornais, é um exemplo deste carácter divino que o financeiro assume - onde na sua transcendência do histórico já nem disfarça o desprezo pela interpelação política, julga que as suas leis são leis divinas, auto-criadas sem nenhuma intervenção e decisão histórica, enfim, que valem por si mesmas independentemente das escolhas e decisões dos homens.

    É um mau infinito porque é cada vez mais o pano de fundo sem fundo.

    João.

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  5. Corrigindo:

    Em vez de:

    "É como a natreza, não se vê por si mesma, vê-se pelo passar das estações, pelos ciclos de nascimento e morte dos organismos, etc. Ou seja, é o que se mantêm idêntico a si mesmo na e pela diferença."

    é sim mais correcto:

    "Ou seja, como natureza é o que se abstrai dos fenómenos naturais e como abstracção é o que permanece em si mesmo indiferente ao fenómeno, à mudança."

    Isto porque é precisamente o carácter abstracto e indiferente do poder financeiro face aos Estados concretos que lhe vai dando o carácter de pano-de-fundo.

    João.

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  6. João Teago: agradeço os comentários e espero que continue a ler-me mesmo, ou sobretudo, quando não concordar comigo. João: muito obrigado pelo comentário. Incisivo.

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