terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Nem tudo é sempre mau ou aborrecido

Da cerimónia dos Óscares do passado Domingo ficou a imagem (ou as imagens) da perna direita de Angelina Jolie a sobressair, branca e magra, de um vestido preto comprido. Do mal o menos.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Chris Patten sobre o ensino superior e as Universidades

Chris Patten é um tipo brilhante, com uma vida preenchida que é causa e consequência desse mesmo brilhantismo. A propósito de um livro recente de Stefan Collini sobre as encruzilhadas em que há muito se encontram as universidades britânicas (e não só), Patten publicou no Financial Times um curto ensaio cheio de perspicácia e de ironia que remata com uma citação que apela a um pragmatismo pragmático (se é que redundância me é permitida): "As Michael Oakeshott, the greatest of modern Conservative political philosophers, reminded us, life is not a succession of challenges to overcome but a predicament: a predicament that, as he argued, will never be managed successfully by replacing an ideological hostility to markets with an equally ideological commitment to them."

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Gente pequenina.

As eleições autárquicas são não sei quando. Mas a cúpula política do PSD e um número indeterminado de autarcas daquele partido já não consegue pensar noutra coisa. Muitos deles, refiro-me aos presidentes de câmaras, encontram-se em fim de terceiro mandato exercido sempre no mesmo concelho (sendo que este terceiro é muitas vezes quarto, quinto, sexto ou se calhar até sétimo). Outros confrontam-se com o fim de um primeiro ou de um segundo mandato e vêem nesta conjuntura eleitoral, que provocará grandes mudanças por causa da aplicação da legislação sobre limitação de mandatos, uma oportunidade de melhorarem a sua posição no mapa e na hierarquia nacional de municípios (é o caso do "independente" Moita Flores que quer trocar Santarém por Oeiras ou qualquer coisa parecida). Este andar numa roda-viva, envolvendo directamente a direcção do PSD, a começar pelo seu presidente que foi feito e será desfeito pelos autarcas do partido que "dirige" a mando de Miguel Relvas, demonstra à saciedade a podridão ética e moral do PSD e de quem nele manda a nível nacional, regional, distrital e concelhio. E porquê? Porque se torna demasiado evidente a ganância das clientelas políticas e quem as pastoreia em momentos de crise económica. Como se fossem (e não são?) as elevadas taxa de desemprego a moverem esta gente pequenina.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Um estranho confronto

 No passado Sábado, a manifestação da CGTP que mobilizou em todo país e juntou em Lisboa umas boas dezenas de milhares de pessoas (trabalhadores de empresas públicas e privadas, pensionistas, desempregados, "precários", funcionários públicos), foi convocada e enquadrada por uma elite dirigente que, maioritariamente, defende o modelo político chinês.
Ora esta direcção da CGTP, na sua grande parte submetida aos interesses e directivas do Comité Central do PCP, que se revê na estratégia, nos princípios, nos meios e nos fins da liderança do Partido Comunista Chinês, está em conflito aberto com um Governo que se identifica implicitamente, e quer introduzir em  Portugal, o modelo económico e social que vigora na República Popular da China. Contraditório? Não me parece.
Noto apenas que, se nada mudar, os modelos fundir-se-ão em Portugal para satisfação de muitos, a começar pelos pelos neovirtuosos que hegemonizam grande parte do discurso e da prática política em Portugal e na "Europa" liderada pelo actual directório franco-alemão.

Imagem daqui.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

As voltas que o mundo dá

 
Os apelos lancinantes feitos por Passos Coelho para que os portugueses produzam mais, fazem-me lembrar um célebre slogan lançado pelo PCP e pela extrema-esquerda em 1975. Para enfrentar e vencer a profunda crise económica que se fazia sentir, os propagandistas do PREC inventaram o slogan intitulado "A Batalha da Produção", cujos propósitos eram e são ainda hoje inequívocos. Um dos seus pontos altos foi uma célebre "jornada" de trabalho cujo produto deveria reverter na sua totalidade para o "Estado", para a "sociedade" e para a "revolução". Era primeiro-ministro Vasco Gonçalves e chefiava para aí o IV ou o V Governo Provisório. Na altura quem estava no poder, apoiava incondicionalmente o general Vasco Gonçalves e só via a "revolução" à frente, não se cansava de proclamar que não havia "terceiras vias" e que ou bem que triunfava a "revolução" ou então o "fascismo" seria restaurado.
Só não sei se vale a pena fazer um desenho a explicar como acabaram e onde nos levaram Vasco Gonçalves, a "Batalha da Produção" e o "PREC" de 1975.

O primeiro-ministro que insulta os portugueses...

Acontece-me com maior regularidade nos últimos meses, cada vez que vou a um supermercado. Esteja ou não na bicha para a caixa onde pagarei as minhas contas, vejo muitas pessoas lançando olhares entre o ansioso e o aflito sobre as poucas moedas e notas que traz no bolso ou na carteira e que larga para pagar uma pequena compra de bens ultra essenciais. Estes meus concidadãos que, ainda com emprego ou já desempregados, não tem sequer dinheiro para se alimentar são, afinal, nas palavras de Passos Coelho, nada "exigentes", mas muito "complacentes" e "piegas". Diante de uma arrogância que insulta em primeiro lugar quem profere tamanhos impropérios, só me ocorre uma pergunta: quem serve um primeiro-ministro que decidiu desconsiderar desta forma os seus concidadãos? Portugal e o povo português não serve certamente...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Demagogia e ignorância: mistura explosiva

As declarações de hoje de Pedro Passos Coelho a propósito (outra vez) da não tolerância de ponto na Terça-feira de Carnaval, demonstram claramente que, tal como o seu antecessor, o primeiro-ministro é um demagogo e um ignorante (também é um serventuário de muitos e variados interesses económicos, mas isso agora não interessa). Na verdade, estas qualidades, a prazo e se combinadas, são positivas. Um demagogo inteligente e bem informado tem maiores possibilidades de se manter no poder durante mais tempo e prejudicar muito mais os seus concidadãos... Mas vamos ao que interessa.
Passos Coelho, instruído certamente pelos taxistas e outros portugueses que juram que Portugal só vai lá com um "Salazar em cada esquina", chegou à conclusão de que é trabalhando mais, muito mais, que a economia portuguesa há-de sair do atoleiro onde se meteu (não se interroga, por exemplo, se aquilo que se produz tem mercado e é bem remunerado por este). Coelho está convencido e quer convencer-nos de que sem a ponte no Carnaval e com menos quatro feriados nacionais por ano, a economia portuguesa reerguer-se-á. Mas para além de tudo isto, o chefe do Governo parece crer ainda que só agora, e após a sua chegada à presidência do Conselho de Ministros, é que os portugueses vão começar a trabalhar e a saber o que é trabalhar. De tudo isto decorre que, para Passos Coelho, co-fundador de uma nova escola do pensamento económico, caso os portugueses passassem a ter apenas uns 10 dias úteis de férias por ano, e descansassem apenas dia e meio por semana, a que se juntaria o fim de todos os feriados nacionais e "pontes", com excepção do Natal e Ano Novo (vá lá), a economia portuguesa pouco tardaria a equiparar-se à dinamarquesa, sueca ou norueguesa... Ora quer-me parecer que não seria bem assim. Por exemplo, senhor primeiro-ministro, há 50 ou há 100 anos, os portugueses trabalhavam muito mais do que trabalham hoje e produziam muito menos do que produzem actualmente.
Mas para além de tudo isto, e como se não bastasse, Coelho ainda balbuciou uns disparates sobre o prejuízo que a economia portuguesa suporta cada vez que há um feriado ou uma ponte (como se o descanso não comportasse ganhos), e jurou que morreu de vergonha por os representantes da "troika" estarem a trabalhar em Lisboa entre 10 e 13 de Junho de 2011 enquanto os portugueses estariam a gozar uma "ponte" de quatro dias, sobretudo estando o país à beira da banca rota. Ora o que Passos Coelho disse foi que, no fundo, a quase banca rota foi consequência da preguiça dos portugueses. Mas por outro lado não disse, porque não sabe ou não quer saber, que um número elevadíssimo de portugueses trabalharam durante esses quatro dias (e não me refiro apenas aqueles não gozaram o Santo António), sendo que muito só fizeram porque feriado e ponte, da mesma forma que não explicou porque não decidiu afinal o seu Governo liquidar o feriado do 10 de Junho, em vez do 5 de Outubro ou do 1 de Dezembro, uma vez que a proximidade dos dias 10 e 13 de Junho se presta, ano após ano, à construção de "enormes pontes", pelo menos na cidade com maior peso na economia do país.
Em resumo, ter um primeiro-ministro deste calibre é uma miséria, para não dizer uma desgraça. Mas o que é mais desgraçado ainda é sabermos que nas eleições legislativas de 2011 a escolha era (foi) entre a fome e a peste, e que esta escolha estará diante dos eleitores portugueses até ao fim dos tempos.

E o dia de São Valentim?

Já conhecemos o "pensamento" do primeiro-ministro e do Governo sobre o Entrudo. Aguarda-se agora, ansiosamente, que exponha a sua "doutrina" sobre o dia de São Valentim (ou dos "namorados"). Devemos e podemos gastar alguma coisa (tempo e ou dinheiro) com as nossas caras metades? Meter um ou dois dias de férias? Gastar todas as nossas energias apenas a trabalhar, contribuindo assim de forma decisiva para o crescimento da economia, o fim do défice e a amortização de todas as dívidas? Uma resposta, por favor... Os portugueses precisam de quem os guie.
Mas desta vez, e se por possível, que se pronuncie sem recurso à demagogia. Custe o custar.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O suicídio do Governo como opção política de Pedro Passos Coelho

Além de demagógica, é de uma irresponsabilidade política e social muito grande a decisão do Governo de não conceder "tolerância de ponto" aos funcionários públicos na Terça-feira de Carnaval de Fevereiro de 2012. Pedro Passos Coelho parece querer suicidar-se antes que o matem. Uma tristeza.

O mistério do Governo que se encurrala voluntariamente

O núcleo duro do Governo, e quem o aconselha, ou sabe alguma coisa muito importante, e até bombástica, sobre a actual e futura situação económico-financeira portuguesa e internacional, ou então não se percebe a razão de ser de uma teimosia na qual o primeiro-ministro, Miguel Relvas e Vítor Gaspar persistem com maior veemência cada dia que passa. Esta teimosia manifesta-se em sucessivas afirmações segundo as quais Portugal não pedirá (porque não necessitará) uma ajuda financeira suplementar para o pós-2013 (senão mesmo já para 2012 ou 2013).
Como toda a gente já percebeu, de acordo com a informação que é pública, Portugal só por milagre poderá cumprir o programa negociado na Primavera de 2011 com a Comissão Europeia, o FMI e o BCE, sem arrasar grande parte do país e/ou o regime político no seu todo. Visto isto, será interessante perceber a que argumentos recorrerá Passos Coelho para manter um módico de credibilidade política e pessoal no dia em que não puder fazer outra coisa que não seja informar os portugueses de que a negociação de um novo "pacote" de ajuda financeira será indispensável, para não dizer inevitável e vital. É que sem credibilidade política e pessoal jamais será possível a Passos Coelho e ao Governo garantirem um módico de estabilidade política e social, além de canais de comunicação abertos com o PS e a Presidência da República, para renegociar o actual acordo com a troika e/ou preparar a negociação de um outro.
Em política, como na vida, muito deve ser feito de forma a preservar o maior número possível de opções, evitando situações em que se fique encurralado. Conviria, por isso, que quando fecha todas as portas, o Governo deixasse abertas (ou entreabertas) algumas janelas (de preferência num rés-do-chão baixo). Porém, tudo indica que não é esse o caso. O Governo está encurralar-se voluntariamente condenando-se a si e ao país, seja por estupidez, teimosia ou cegueira ideológica (basicamente tudo sinónimos). É verdade que não chorarei o previsível destino do Governo no momento da sua condenação como consequência da sua estupidez, teimosia e cegueira ideológica. Já quanto ao país não poderei dizer o mesmo.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Flagrante delito

A prestação de hoje do primeiro-ministro no debate quinzenal na Assembleia da República foi pior que mau. O seu discurso, os seus argumentos, a sua estratégia, estão gastos. E estão gastos porque não assentam no primado da razão. São prisioneiros da intransigência ideológica. E já não falo das questões económicas e financeiras, sobre as quais direi alguma coisa noutra altura. Refiro-me aos escassos minutos que gastou a defender a proposta do PSD e do CDS relativo aos termos em que passará a ser feita a condenação de homens e mulheres alegadamente apanhados em flagrante delito. Esta proposta abjecta, que Passos Coelho assina de cruz, demonstra que não são apenas os chamados direitos sociais dos cidadãos que o primeiro-ministro quer ver desaparecer. Aparentemente, o primeiro-ministro e o Governo têm igualmente como propósito pôr fim aos mais elementares direitos de defesa dos cidadãos no caso de serem alegadamente apanhados por um agente da autoridade em "flagrante delito". Ora, e para sermos objectivos, um dos primeiros cidadãos portugueses a ser apanhado em flagrante delito, atentando contra os princípios do estado de direito democrático, foi, é, Passos Coelho. Estivesse a bem-dita lei em vigor, e preocupasse-se com a  defesa dos princípios e as práticas basilares que definem o chamado estado de direito democrático e o primeiro-ministro já estaria demitido e fechado num qualquer presídio da capital.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O Governo, as empresas de transporte público e a lógica da batata

Como é que "parar" legítima e legalmente empresas públicas que só servem para dar prejuízo a Portugal e aos portugueses - é a tese do ministro da Economia e do secretário de Estado dos Transportes - consegue "custar 150 milhões de euros"? Custa tanto? Mesmo? Como e a quem? E porquê? Digo isto porque segundo a lógica e os argumentos usados por este Governo para reestruturar as empresas públicas de transporte, a greve deveria dar lucro ao Estado e à economia, uma vez que todas as empresas públicas de transporte que amanhã estarão em greve padecem, entre outros pecados, de enormes e insustentáveis custos operacionais.
Ou então, as empresas de transporte público do Estado são mesmo muito importantes economicamente e o seu não funcionamento ou não utilização pelos cidadãos transforma-se rapidamente num prejuízo muito maior para todos do que os prejuízos acumulados por má gestão provocada por sucessivas administrações, governantes e governos.