sábado, 23 de junho de 2012

Ontem o socialismo, hoje o empreendedorismo.


Numa entrevista ao Público, Jorge Moreira da Silva, vice-presidente do PSD e "líder" da Plataforma para o Crescimento Sustentável , terá dito que “Portugal está a precisar de um choque de empreendedorismo”. Não satisfeito com a profundidade da "consideração", afirmou ser necessária uma “revolução de mudança de mentalidades” e que «Portugal tem “pessoas muito talentosas” e que o país tem “recursos naturais” que o transformam numa nação rica.»
O Dr. Cunhal, que Deus tem, também estava convencido que Portugal era um país rico, cheio de "recursos". Só que enquanto Jorge Moreira da Silva "acha" que vamos lá com uma revolução de "empreendedorismo", Álvaro Cunhal jurava que a coisa se revolvia com uma revolução "socialista". 
Em resumo: os anos passam e as "elites" continuam a acreditar, ou a fingir que acreditam, no Pai Natal.

domingo, 10 de junho de 2012

Sôbolos rios que vão


1
Sôbolos rios que vão
por Babilónia, me achei,
Onde sentado chorei
as lembranças de Sião
e quanto nela passei.
Ali, o rio corrente
de meus olhos foi manado,
e, tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.

2
Ali, lembranças contentes
n'alma se representaram,
e minhas cousas ausentes
se fizeram tão presentes
como se nunca passaram.
Ali, depois de acordado,
co rosto banhado em água,
deste sonho imaginado,
vi que todo o bem passado
não é gosto, mas é mágoa.

3
E vi que todos os danos
se causavam das mudanças
e as mudanças dos anos;
onde vi quantos enganos
faz o tempo às esperanças.
Ali vi o maior bem
quão pouco espaço que dura,
o mal quão depressa vem,
e quão triste estado tem
quem se fia da ventura.

4
Vi aquilo que mais val,
que então se entende milhor
quanto mais perdido for;
vi o bem suceder o mal,
e o mal, muito pior,
E vi com muito trabalho
comprar arrependimento;
vi nenhum contentamento,
e vejo-me a mim, que espalho
tristes palavras ao vento.

5
Bem são rios estas águas,
com que banho este papel;
bem parece ser cruel
variedade de mágoas
e confusão de Babel.
Como homem que, por exemplo
dos transes em que se achou,
despois que a guerra deixou,
pelas paredes do templo
suas armas pendurou:

6
Assi, despois que assentei
que tudo o tempo gastava,
da tristeza que tomei
nos salgueiros pendurei
os órgãos com que cantava.
Aquele instrumento ledo
deixei da vida passada,
dizendo: -- Música amada,
deixo-vos neste arvoredo
à memória consagrada.

[...]

quarta-feira, 6 de junho de 2012

São os "interesses" estúpido.


"O resultado hoje é que temos cumprido. Até à data, temos cumprido. É bom. Se alguma coisa lá fora não correr bem, os nossos parceiros irão defender-nos, acreditam em nós. Também é bom". Se Pedro Passos Coelho acredita numa coisa destas é absolutamente lamentável e irresponsável. Já alguém lhe devia ter explicado que os estados têm interesses e as suas lideranças políticas agem em função daquilo que julgam ser a defesa desses interesses. A começar na toda-poderosa Alemanha e acabando na insignificante Malta. Portanto, os outros só defenderão Portugal se essa defesa for do seu interesse. Caso contrário, não terão qualquer problema em deixar-nos cair. Tenhamos ou não cumprido e seja este cumprimento do nosso interesse, ou não. Percebeu, sr. primeiro-ministro?
P.S.: É verdade que o mais provável é que Passos Coelho não acredite nem numa palavra das acima transcritas. Nesse caso o seu "discurso" é ainda mais lamentável. A hipocrisia e a mentira deviam ter limites.